Ainda em homenagem aos 79 anos da D. Esther, publico hoje Rosa em duas versões. A mais moderna, na linda voz de Marisa Monte...
... e a segunda, interpretada pelo próprio compositor, Pixinguinha...
Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinha, era flautista, saxofonista, cantor, arranjador, compositor... tinha música nas veias... o pai também era músico. É considerado um dos precussores do choro brasileiro. Suas composições datam do começo do século, aproximadamente segunda década. Rosa é uma das centenas de composições que ficam entre o choro e a polca.
A letra é algo divino!! Gostaria de ver alguém compor assim nos dias de hoje...
Ah! E que mulher não se derreteria diante de tal declaração de amor??
Do repertório de estudo, sempre que executo olhos negros, minha mãe diz: essa mexe comigo! Não tem Bach, nem Beethoven, nem Mozart ou Chopin que dê jeito. É "Olhos Negros" e pronto!
Hoje, no dia do seu aniversário, eu coloco a minha singela interpretação dessa canção russa.
A Estherzinha sempre disse que essa música tem letra, e eu insistia que não. E tem!
Tá aí mãe, prá senhora acompanhar:
Очи чёрные, очи страстные, Очи жгучие и прекрасные, Как люблю я вас, как боюсь я вас, Знать увидел вас я не в добрый час.
[…]
Не встречал бы вас, не страдал бы так, Я бы прожил жизнь улыбаючись, Вы сгубили меня очи чёрные Унесли на век моё счастье.
Очи чёрные, очи страстные, Очи жгучие и прекрасные, Как люблю я вас, как боюсь я вас, Знать увидел вас я не в добрый час.
A versão brasileira é de Carlos Santorelli e é tão brega, mas tão tão brega, que não cabia nos propósitos desse blog (minhas escusas ao autor da versão, mas meu gosto não está em julgamento nesse espeço, ok?)
Fato é que a canção original é cigana. Conta a história que os ciganos eram servos da corte e serviam à aristocracia. Em meados do século XIX foram liberados de suas funções e passaram a tocar, cantar e dançar nas ruas em troca de moedas para o seu sustento (lembram da História do Corcunda de Notre Dame? Claro... se passa na França, mas não esqueçamos que os ciganos não se prendem a um lugar e levam consigo as suas tradições). Olhos Negros remonta à essa época. Mais tarde, tornou-se um hino da Revolução Bolchevique.
Quero ver todo mundo cantando junto!! Vamos lá!! hehehe...
Mãe, PARABÉNS!! A senhora é a minha força, a minha vida, a minha inspiração! Que o seu dia seja alegre como essa música e que os seus Olhos Negros continuem trazendo luz e força para a nossa família. Obrigada por estar sempre presente, por aturar minhas faltas, por simplesmente existir! TE AMO!!
A música brasileira é realmente maravilhosa. Uma mistura de influências... desde os batuques africanos, que marcam as nossas composições, até a ópera (vejam meu conterrâneo Carlos Gomes - que, conta-se, chegou a tocar seu violino atrás da Catedral campineira em troca de umas moedas.. mas essa é outra história - e o seu Guarani que ouvimos de segunda a sexta na abertura da Hora do Brasil) temos um pouco de tudo... às vezes separados, às vezes "tudo junto e misturado". Somos um povo de uma riqueza cultural mal avaliada, mal percebida e mal festejada por nós mesmos. Temos sempre a impressão de que o que é do outro é melhor, e o brasileiro é melhor em tudo (até no que não devia).
A Ave Maria, do pianista paulista Erothides de Campos, é uma composição do primeiro quarto do século XX e tem letra de Jonas Neves. É uma singela valsinha bem marcada que, conta a mãe, o vô tocava e obrigava os filhos a acompanharem... isso me faz imaginar a razão de ser da D. Estherzinha, nos seus 79 anos de idade que se completarão amanhã, ainda conservar a bela e firme voz que entoou boa parte da minha infância. O repertório da velhinha é tão vasto e eclético que muito músico de carteirinha haveria de se admirar.
Essa é só uma delas... Vai aqui numa interpretação de 1947 por Francisco Alves.
Enjoy it!
Não é de arrepiar?? (qdo a alma sente a gente se arrepia, já perceberam? Bom... pelo menos comigo é assim...)
sábado, 21 de abril de 2012
Música é o conjunto de sons que agrada ao ouvido.
Bom... gosto cada um tem o seu... assim, de Bach a Michel Teló devemos respeito a todos.
Música sacra, profana, clássica, romântica, popular... depende da hora e da companhia...
Essa semana, na medida em que o excesso de trabalho me permitir, quero dedicar todos os meus post à minha mãe, que estréia idade nova na segunda-feira. Minha mãe é a responsável pelo meu [bom! ;o)] gosto musical, pela minha paixão pelas artes e pelas histórias de família... já que fui a última a vir ao mundo, perdi muita coisa - e muita gente - cujo amor que cultivo só pode ser obra da D. Estherzinha...
Segundo conta a história, uma das músicas que marcaram a minha mãe era executada pelo meu avô materno ao violão... eu gostaria de ter visto e de tê-lo acompanhado nos vocais... meu tio Nelson e meu primo Márcio, que seguiram o talento musical no violão, imagino eu que toquem também... o meu filho, que também manda muito bem no instrumento de seis cordas poderia aprender... quem sabe um dia não sai essa reunião musical familiar...
Apreciem o vídeo... depois conto a história da música...
De arrepiar!!
Ave Maria no Morro - Herivelto Martins - gravada pelo Trio de Ouro em 1942
Intérprete: Dalva de Oliveira
Obs.: Dalva e Herivelto foram casados, mas lamentavelmente foi um casamento desastroso. Muito diferente da parceria que fizeram na música (mais um exemplo de que o que a música une, o casamento pode desunir)
Reza a lenda que foi escrita após o compositor notar o canto dos pardais ao fim da tarde.
Também foi considerada uma heresia e houve um movimento eclesiástico para baní-la. Graças a Deus, que é onipotente, onisciente e onipresente, os esforços humanos foram em vão...
Linda oração, foi um sucesso nas paradas já na década de 50...
Explicado o gosto musical eclético, como diz a minha querida amiga/professora Denise Nantes?
Ah! A vida tem uma trilha sonora!!
Quantos momentos a gente pode registrar com música? Eu? Praticamente todos! Todo dia pode ser representado por uma música!
Essa, lembrada pela minha mãe, D. Estherzinha, me remete de volta ao ballet... peça linda inspirada nessa comédia musical de 1954, era de ouro do cinema, e dirigida por Stanley Donen... pelo que me lembro do filme, os sete irmãos resolvem raptar (no sentido técnico do termo) as sete garotas alvo do seu amor. De início elas ficam enfurecidas, mas logo passa...
Apresentei-me enquanto membro do corpo de bailarinas (aprendizes ainda) da Academia de Ballet Lina Penteado com esse musical:
Movida a desafios!
Ontem, Lago dos Cisnes; hoje Hallelujah... é uma música popular, tema do filme Shrek... linda,linda, linda!
Composição do canadense Leonard Cohen, tem diversas interpretações facilmente encontradas na internet...
Meu desafio não é só interpretá-la ao piano, mas, em dueto com a querida Denise Nantes, hei de interpretá-la cantando!
Sendo assim, algumas interpretações que me inspiram...
Com o próprio Leonard Cohen...
Numa versão heavy metal... Pain of Salvation... linda! (lindos...)
Divirtam-se e relaxem! Que a semana seja tranquila, cheia de paz e realizações... Hallelujah!
Tarde chuvosa em Curitiba... perfeita para estudar... qualquer coisa, mas eu escolhi o piano...
Movida por um desafio proposto pela Denise, decidi me atracar com Tchaikovsky: Lago dos Cisnes... um dos meus movimentos preferidos (Quarto ato - parte 5) e que me faz lembrar os tempos de ballet.
A paixão pelo piano começou, na verdade, no ballet que eu estudei por muitos e muitos e muitos anos... terminava a aula e eu corria me sentar ao lado da pianista, observando aqueles dedos ágeis...
Do ballet, meu gosto - bom gosto, aliás - para música, dança, teatro, literatura e tudo que é arte.
Lembrei da minha professora linda, Márcia Cama... (por onde andará/dançará ela?) Interpretou belissimamente o cisne negro. Era professora! Não ensinava, inspirava! Era maravilhoso vê-la executar suas 40 pirouettes... suas alunas, de olhos grudados, contavam mentalmente e aplaudiam em pé (mentalmente também) e tentávamos imitá-la... mas seria preciso uma vida para alcançar tal façanha... uma vida sem peito, sem coxas e sem bunda (acho que está explicado porque abandonei a dança)...
O Lago dos Cisnes foi encomendado a Piotr Ilich Tchaikovsky - compositor representante do romantismo - e estreou no final do século XIX. É um ballet lindo e triste... meio Romeu e Julieta... o mocinho e a mocinha morrem no final... a história conta que foi um fiasco... orquestra ruim, ballet ruim e coreografia ruim... pobre homem! Deve ter penado horrores, mas o tempo e as excelentes companhias de ballet o redimiram!
Não há bailarina no mundo que não sonhe interpretar a bela e doce (e insosa) Odette - o cisne branco - ou a maravilhosa e imponente (e má) Odille - o cisne negro.
Ah, mas eu sigo aqui, com as belas lembranças, com a emoção de interpretar essa peça linda, com os glissandos que me deixam com os dedos doloridos... mas feliz e vibrante! Com todas as minhas células...
Segue o vídeo do Quarto Ato - parte 5... a música é a que estou estudando, e quando estiver madura vou postar... a interpretação é do Studio D1, no belo Teatro Guaíra, em Curitiba!
A música é uma das mais antigas expressões humanas. Enquanto alguns homens das cavernas registravam nas paredes os eventos diários, outros batiam pedras e paus imitando os sons da natureza e se divertiam com isso. Antes mesmo de termos desenvolvido uma linguagem - e olha que não há nada de simples na nossa - a forma mais rudimentar de comunicação dependia da emissão e captação de sons.
O homem, esse animal tão fraco e desengonçado, incapaz de sobreviver na natureza senão em grupo, acabou desenvolvendo formas maravilhosas de existir, de coexistir, de viver.
A música, desde os primórdios, alegra, diverte, distrai... tem o poder de desconectar o ouvinte do seu martírio diário...
"A música é a linguagem dos espíritos. Sua melodia é como uma brisa saltitante que faz nossas cordas estremecerem de amor. Quando os dedos suaves da Música tocam à porta de nossos sentimentos, acordam lembranças que há muito jaziam escondidas nas profundezas do passado. Os acordes tristes da Música trazem-nos dolorosas recordações; e seus acordes suaves nos trazem alegres lembranças. A sonoridade de suas cordas faz-nos chorar à partida de um ente querido ou nos faz sorrir diante da paz que Deus nos concedeu." [Khalil Gibran]
Essa é a minha música de técnica. A que ficou madura antes de todas... a que eu toco prá desestressar, prá aquecer, prá desaquecer, prá exercitar, entre uma peça e outra quando eu estou estudando... o vídeo é caseiro, feito com o iPhone... a qualidade não é das melhores... mas a intenção é apenas contar que essa é uma que me toca a alma.
Imagine-se no início do século XVIII (1716)... a cidade é Leipzig, Alemanha... se vc entrasse numa Igreja, poderia encontrar um jovem senhor, na casa dos 30 anos, absolutamente apegado à técnica, à métrica... um homem profundamente religioso sentado ao órgão executando essa cantata (foram bons nessa forma musical, além desse senhor, Caríssimi e Schütz)... um hino de louvor e de alegria! Este jovem senhor é Bach (Johann Sebastian Bach), autor de algumas das mais belas peças que representam a música clássica (clássica mesmo, do período clássico - falaremos mais disso em outro post). A característica é a perfeição (claro que falta muito prá eu chegar lá, mas vou buscando) que só se alcança com a persistência (penso que algum vizinho há de impetrar um remédio processual qualquer que me proíba de executá-la, pois ouvem centenas de vezes por dia).
O mais curioso prá mim foi saber tratar-se de um coral. Eu amo coral!!
Meu primeiro instrumento foi uma flauta que furtei da Maria Alice (a Maria Esporte), o segundo foi o piano (que tive que abandonar por longos anos) e o terceiro, a voz (cantei em coral durante toda a faculdade de Direito e mais tarde, já em Curitiba, no Coral da Petrobrás, que tive que abandonar, com dor no coração por absoluta falta de tempo).
Fui procurar o coro... espero que se arrepiem, como eu!
FONTES:
MED, Bohumil. Teoria da música. Brasília: MusiMed, 1996
PRIOLLI, Maria Luisa de Mattos. Princípios básicos da música para a juventude. 2º vol. Rio de Janeiro: Casa Oliveira de Músicas, 1980
MASCARENHAS, Mário. 120 músicas favoritas para piano. São Paulo: Irmãos Vitale. p. 123
A PEÇA EXECUTADA:
Johann Sebastian Bach, Leipzig, Alemanha, 1716. Coral final da Cantata "Herz und Muden und Tat und Leben", denominada muito mais tarde como Sonata BWV 147, no catálogo geral das obras de Bach. Popularmente conhecida como "Jesus, Alegria dos Homens".
Executada a partir de partitura facilitada extraída da obra de Mário Mascarenhas acima referenciada.
quinta-feira, 12 de abril de 2012
Certo dia um amigo me perguntou: "O que te faz feliz?". Respondi, sem pensar: meus filhos, minha ciência, ter um trabalho... e ele retrucou: "Não, Estela! O que te faz vibrar com todas as suas células?". Imediatamente pensei: A música!!
Desde esse dia, resolvi mudar a ordem das coisas na minha vida. Trabalho é importante, mas é só trabalho. Dinheiro é importante, mas é só dinheiro. Amigos, amores... esses vêm e vão.
A vida é outra coisa. A vida é aquilo que nos faz vibrar com todas as células! Que nos faz pulsar de alegria!
A minha vida é música!
Em casa somos 3 irmãs, 3 Marias, cada qual com seu talento. E na hora do vocativo, minha mãe nunca acertava a Maria que queria. Era um tal de Maria Alice, Maria Cristina, Maria pqp!! Sempre a que ela queria era a Maria pqp!! :o)
Teria sido mais fácil indicar as filhas pelo seu talento: Maria Esporte, Maria Cozinha e a caçula, Maria Música!
A Maria Cozinha, a propósito, é quem inspira esse blog cuja ideia surgiu a partir do seu Histórias de Comidas. Me permita, mana, seguir a sua ideia prá contar um pouquinho daquilo que me motiva!
Me inspira, ainda, um professor e amigo, Bortolo Valle, que numa aula de Epistemologia disse: "o seu mundo é aquilo que você lê". Parafraseando o Bortolo, o seu mundo é também o que você ouve.
A tarefa é simples: contar, com um pouco de humor, mas sem abandonar o rigor técnico, as histórias de músicas e de músicos, assim como as aventuras de uma aprendiz de pianista na busca da perfeição e, com isso, quem sabe, ampliar os horizontes musicais daqueles que se deixarem levar por essas histórias.
Conto com a ajuda valiosa da Professora Denise Nantes, musicista das boas, amiga dessas que o destino faz entrar na nossa vida tardiamente e que a gente tem a sensação de que conhece desde o início dos tempos.
Espero que gostem...